Pra quem gosta de histórias mal contadas...

A vida como ela é, o mundo bizarro, monga, a mulher gorila, o maior espetáculo da terra, a luz, a sombra, a mulher, o homem, a barba, os bárbaros, as invasões, os ciganos e o gelo... tudo isso por um precinho módico.Bem vindo ao teatro das ilusões!!!

 

terça-feira, março 20, 2007

 

não era o que você dizia? 

Vamos lá, garoto, acho que está na hora de voltar. Levanta a cabeça, vai, cê já estudou demais o próprio umbigo. Olha ao redor, só um cadinho. Mudou tudo, né? “A festa acabou, o povo sumiu”, você já não entende lhufas de poesia. (Quem sabe de poesia concreta. Mas você sabe que, de concreto, hoje, ainda há pouco muito pouco. Nunca há concretude suficiente. Tudo é dissolução, não era você que sempre dizia isso?).

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segunda-feira, janeiro 08, 2007

 

a saudade em cinco atos 

E ela disse: “Tira a minha calcinha”
Tirei, voraz. Como quem arranca a pele do corpo com as unhas, como quem busca o mais fundo, o de dentro. Tirei, como quem tem sede, como quem tem fome. Tirei como quem não vê a hora, como quem já cansa de esperar.

E ela disse: “Faz o que quiser de mim”
E eu tive medo de mim, de meus desejos mais secretos, dos meus instintos primitivos, da minha face canívora. Na boca, saliva. Nos vasos, o sangue em sua corrida maluca. A boca, a língua, o dentre – e a carne tenra. Os líquidos, os gemidos, as coxas e os movimentos do ventre, pra lá, pra cá, pra lá, pra cá, pra lá, pra cá. A dança, a sintonia, a música e, a plenos pulmões, o grito.

E ela disse: “Pára, sinto a morte chegando”
E eu comunguei com o fim da linha. E quis ver a face da insesejada, da impronunciável, da que não tem nome, da que nos espera. E quis morrer com ela e mandei a razão às favas e quis o que não se explica, o sentido que se sente. Não parei, mas a invadi, como quem esperasse há décadas, como quem não via a hora, como quem sempre quis. E agora tudo era espasmo e gagueira. Nossa carta de amor foi feita assim, à base de balbucios.

E ela disse: “Quero morar no teu mundo”.
E eu disse: “Já mora, ele fica no hiato entre mim e ti, no ponto de encontro entre nossos corpos, no espaço reduzido deste chão”. E ela sorriu e veio o abraço, e veio e beijo demoradamente intenso eterno enquanto durável.

E ela disse: “Eu te amo”.
E eu acreditei, porque não havia do que duvidar, porque o corpo dissera, o corpo falara, o corpo gritara uma história de amor e ao corpo não se faz objeções, porque o corpo é sincero, o corpo é verdade, o corpo é concreto e é com concreto que se erguem os castelos dos contos de fadas.


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Pecadores 

Ela veio trazer o pecado, trouxe consigo os demônios. Os demônios voadores, com seus vôos circulares, com seus razantes os demônios trazem a história no dorso, quatro patas de cavalo, três cabeças de dragão e dúzias de dentres de sabre. Ela, pôs por terra a minha teologia, fez chacota dos meus dogmas, ateou fogo em meus livros sagrados. Perdeu-se o código, a diretriz, a lei: bem-vindo ao reino da permissividade, bem-vindo ao império dos sentidos (e da falta de). Adeus ao caminho reto, saudações aos caminhos tortuosos, às encruzilhadas, às curvas fatais. Bem-vindo aos rodopios, às quedas, ao chão, à terra, ao pó. Sim, sim, ela veio trazer o pecado, veio acordar a serpente, veio brincar no jardim, edêmica como ela só. Veio despida de tudo, de moral, de pudor, de valores. Veio assim, irresistivelmente ela, com o pecado a tira-colo, com o desejo entre as pernas, com o sussurro entre os dentes. Eu, o proscrito, reneguei meus credos no ato, e disse: “Por ti, descreio de tudo, ó deusa pagã, por ti, aceito os ídolos de barro, os ídolos de ouro – e mais, e mais! - os ídolos de carne e osso. Por ti, ó senhora do desejo – por ti renego meu berço e acato vontades outras só para morrer e renascer no teu corpo, só pra estar entre teus rins, no mais íntimo de ti, fazendo dos teus fluidos meu alimento, meu manjar (re)criador. Por ti, descreio de mim para encontrar o sentido nesta unidade imperfeita. E que assim seja, se for da tua vontade”. (E assim foi e assim é e assim será, pois cá está o caminho sem volta, a vereda final, a curva do vento. Cá estamos nós. Contrariando as profecias, cá estamos nós).

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barbáries 

Eu quero muito, muito, muito mais, e você bem sabe, nunca escondi, nunca ocultei, nunca me fiz de rogado na hora de lutar pelo que me pedem o corpo, o ventre e as visceras. E, ao fim e ao cabo de tudo, é disso que se trata: visceralidade, natureza, instinto, vontade e, claro, claro, desejo. Olha pra mim agora, está vendo meu rosto transfigurado? Sãos os efeitos do meu querer interditado pelo espaço-tempo deste nosso elo perdido. Todo tesão de outrora, todo impulso contido a duras penas renasce no seio ora ofertado. Meu universo, pleno em sua dança cósmica, reluz na rigidez dos seus mamilos, guria. Eu, o bárbaro, o visigodo, o vinking, o ogro. Eu, o degenerado, o pervertido, o devasso. Eu, o pária, o estigmatizado, o outkast, o outsider. Eu, o feliz, o do sorriso diabólico, o da risada acintosa. Eu, o desejante, o sedento, o faminto. Eu – eu só posso querer mais. Hoje só cabe em mim o que é excesso, esgotamento, suor. Quero a pele incandescente, a fervura, o doce amanhã. Preciso, preciso, preciso de mais. Quero das entranhas a mais profunda, das secreções a mais grossa, da cavidade a mais únida. Quero do corpo o avesso, quero da carne o que é sangue, quero do sangue o que é vida: pra beber pelo gargalo.Chega, chega, basta de contenção. Eu quero é perder a razão, enlouquecer. Toma, vai, toma a minha vida nas mãos, faça dela seu brinquedo, de mim, o títere da paixão desvairada. Toma, aceita minha oferta e diz – diz que o faz por amor de mim. Faz isso. Faz isso e tudo fica em paz.

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estética: a ciência do belo 

ela nunca entendeu as matemáticas da existência, nunca aprendeu a lidar com a subtrações, só sabia somar mais ou menos, porque as donas da beleza são assim, só acrescentam elementos ao seu mundo mágico e, se deixam destroços pelo caminho, não percebem, não fazem por mal, carecem de senso crítico, às donas da beleza não cabe pesar perdas ou danos alheios, só cabe portar a beleza, desfilar pelo mundo, passarelas, calçadas, walking down the streets forever, porque elas são as musas, a sétima arte, a oitava maravilha, elas prescindem de educação moral e cívica, são feitas de orvalho, são filhas da selva, nasceram no mato, são dom natural, acontecem e só, não precisam de mais, nem de menos, são completas, são em si, são números inteiros, primos, absolutos, mas não entendem de matemática, de português, de história ou de ciências, nelas tudo é geografia, anatomia, biologia, elas são as ciências da terra, as ciências incultas, as inconsciências, as donas da beleza herdarão a terra, sete palmos de

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em casa, nunca conseguiram ver um filme até o fim 

hoje eu fui ao cinema e procurei tua mão no escuro. seguimos assim, perdendo-nos entre um frame e outro

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Dormi - ela disse. E sorriu preguiçosamente encabulada. 

Nada supera este sentimento, você dormindo aqui, no meu ombro, fazendo do meu corpo o meio para um repouso merecido. E você merece. Dormir, repousar, quedar-se, perder-se na inconsciência, na inconsistência, naquele território algo loco onde tudo é possível – onde nada é. O máximo de possibilidades, o mínimo de autonomia. Perder-se, perder-se nos próprios sonhos é como amar. Amar é perder-se. O amor é a heteronomia desejável: é livrar-se do peso de ser um só. E isso você fez comigo. Amou. Perdeu-se. Perdemo-nos. E construimos juntos esta leveza – só nossa.

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