Pra quem gosta de histórias mal contadas...

A vida como ela é, o mundo bizarro, monga, a mulher gorila, o maior espetáculo da terra, a luz, a sombra, a mulher, o homem, a barba, os bárbaros, as invasões, os ciganos e o gelo... tudo isso por um precinho módico.Bem vindo ao teatro das ilusões!!!

 

segunda-feira, setembro 25, 2006

 

Medo e Obsessão 

Um dos caminhos mais fáceis de agradar platéias no cinema é fazendo pipocar na tela belas imagens. Highways, avenidas, lagos, rios, florestas. O universo do que aos olhos, enfim. Em Medo e Obsessão, não é esse o caminho escolhido por Wim Wenders para trazer ao mundo sua visão do EUA pós-11 de setembro. A Los Angeles de Wenders faz muita coisa, menos agradar aos olhos.

Pobreza, miséria, fome, preconceito e medo. Essas são só algumas das mazelas dos EUA que Wenders traz à tona com seu filme mais recente, Medo e Obsessão. São questões com as quais não estamos habituados a nos deparar no cinema made in USA, mas elas estão todas lá. Um mundo doente, faminto, decandente, pronto para ser captado pela câmera do cineasta alemão – cada vez mais do mundo. Para capturar/liberar esse universo, Wenders opta por uma iluminação algo precária, imagens granuladas (sujas) parecem tomar onta de todos os espaços da tela no início do filme. Cubículos, lixo, carências, ausências: é em meio a isso que brota o 11 de Setembro de Medo e Obssessão.

No filme, John Diehl interpreta um veterano de Guerra com problemas mentais e fisicos que parece reencontrar o sentido para sua existência na cata de elementos suspeitos – árabes! - que possam por em risco a segurança de seu home sweet home. Paranóico, o homem vê ameaças químicas em caixas de produtos de limpeza, células terroristas em sem-tetos de turbante e riscos de atentado em simpáticos teco-tecos. O homem que vemos sofre de insônia, tem a pele suada e não dá muita atenção à própria aparência.

O contraponto (tábua de salvação) do nosso veterano é a personagem da bela Michelle Williams, que interpreta sua sobrinha. Até então morando na Cisjordânia, depois de passagens pela África, a jovem de 20 anos chega aos EUA, depois de anos, para trazer ao tio uma carta da irmã dele (mãe dela), com a qual nosso herói não tem contato desde que ela deixou os EUA.

É na sobrinha que todo o triste cenário do filme, e não apenas o tio paranóio, encontra sua redenção. Apesar de sua condição privilegiada, de sua personalidade cosmopolita e “conectada” (comunica-se com os parentes distantes com um delicado notebook), a jovem parece não se abalar com o ambiente de dor em que é arremessada. Hospedada num albergue para sem-tetos, ela não demora a tornar-se útil e querida. A menina é um hálito fresco na tensa atmosfera daquela Los Angeles.

É com muito tato que a sobrinha vai desconstruir as paranóias do tio. Com sutileza, ela entra no jogo dele, ajuda-o em suas investigações e, por fim, estabelece uma relação de cumplicidade que garante a ela fazer com que o tio comece a transitar no outro lado. É esse espírito de bondade que vai tomar conta da parte final do filme. É dessa relação entre o angelical e o atormentado que vão nascer algumas das cenas de maior sensibilidade do filme, como quando o nosso patriota descobre o que há de patético em si mesmo e se abre para um possível recomeço. Oportunidade assegurada pela irmã doente, que, na (belíssima) carta finalmente lida por ele, parecia já saber que faria um duplo bem ao enviar a jovem filha em busca do tio americano: primeiro ao devolver a filha à América já tão distante; depois, ao devolver o irmão à humanidade por ele perdida.

Ao final, medo e obsessão dissipam-se numa atmosfera de esperança, que faz acreditar que - quem sabe! - as duas torres possam ser reconstruídas sobre novíssimas bases. O filme colocado-nos, enfim, diante da beleza – por um caminho sob muitos aspectos inusitado.

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