Pra quem gosta de histórias mal contadas...

A vida como ela é, o mundo bizarro, monga, a mulher gorila, o maior espetáculo da terra, a luz, a sombra, a mulher, o homem, a barba, os bárbaros, as invasões, os ciganos e o gelo... tudo isso por um precinho módico.Bem vindo ao teatro das ilusões!!!

 

segunda-feira, setembro 25, 2006

 

O mais belo de meus melhores anos 

A Bolívia guarda um dos piores indicadores sociais da América Latina, continente com alguns dos piores indicadores sociais do mundo. Vítima de uma longa ditadura, atravessada por conflitos étnicos, dona de um cenário político complicado e às voltas com um processo de neoliberalização conflituoso, o país parece conter, em estágio avançado, uma série de dilemas que permeiam o continente sul-americano como um todo, desde os anos 60.

É esse o conturbado cenário de O mais belo de meus melhores anos, filme de Martín Boulocq, exibido neste Festival do Rio. Captado em câmera digital e calcado em diálogos que abusam do improviso, o filme diz muito do contexto latino americano atual. Muitos dos dilemas vividos por Berto (Juan Pablo Milán), Victor (Roberto Guillon) e Camila (Alejandra Lanza) poderiam ser expressados por jovens uruguaios, colombianos, argentinos, latino americanos, enfim, às voltas com regimes políticos eternamente com cara de transição numa época marcada pelo esvaziamento ideológico.

Berto é um rapaz tristonho, que parece ver como única solução para sua vida a mudança de país. Tímido, nutre uma profunda amizade por Victor, um descolado (e engraçadíssimo) funcionário de locadora que espera alcançar o sucesso como diretor de filmes pornôs. Os dois estão juntos na tentativa de vender o Volkswagen 65 de Berto, herança do avô, para que o mesmo possa comprar sua passagem para o exterior. Na amizade dos dois paira um clima algo tenso. De um lado, a extroversão de Victor e sua habilidade com as mulheres; de outro a timidez de Berto (que não é Roberto nem Alberto, mas Berto mesmo), que não parece muito à vontade no trato com o sexo oposto.

Enquanto Berto se sente deslocado em sua cidade, em suas roupas, em sua vida, Victor transita com facilidade no reduzido universo de Cochabamba. Apesar das diferenças, os dois parecem se dar bem quando juntos (apenas os dois, pois a presença de qualquer outro elemento perturba Berto ao extremo.

A chegada de Camila, namorada de Victor, à cidade (ela praticamente cai de pára-quedas no filme) altera o mundo perfeito do aspirante a cineasta. Bela e ambiciosa, Camila gosta de Victor, mas parece sentir-se oprimida pelo mundinho de Cochabamba. Ao contrário de Victor, que sente-se no lugar certo com as pessoas certas, Camila deseja algo mais.

Forma-se assim um triângulo tenso que termina por afastar os personagens, arremessando-os para caminhos opostos. De belo, em verdade, pouco há nos melhores anos desse trio, que parece vagar perdido pelas desoladas ruas bolivianas.

A câmera de trêmula e algo míope de Boulocq parece impregnada pela atmosfera do filme. Imagens fora de foco, escuras e granuladas remetem maravilhosamente aos personagens, que parecem andar às apalpadelas naquele universo sem muitas pespectivas. Não raro, vemos closes de gestos – de mãos, de pés, de cabeças – que denunciam a inconsistência dos discursos. No fundo, ninguém tem direção certa.

O mais belo de meus melhores anos foi filmado sem que os atores tivessem conhecimento do roteiro do filme. Boulocq estimulou ao máximo a improvisação de diálogos, o que dá aos mesmos uma naturalidade interessante, algo que hoje a câmera digital torna cada vez mais acessível. Os atores, importantes para que esse tipo de estratégia funcione, dão conta do recado, com destaque para a interpretação de Guillon, dono de tiradas fantásticas.

O filme de Boulocq parece sublinhar uma tendêndia do cinema latino americano contemporânea, algo que passa pela interpretação do vazio da geração pós-ditadura e da crise da geração pós-Tatcher. Filmes como os argentinos O Cachorro e Plata Quemada ou os uruguaios Whisky e Ruído dão uma vaga noção dos descaminhos nos quais o cinema (e o homem) latino americano anda transitando. Parece haver aqui uma releitura da estética do loser, quiçá uma estética del perdedor. Perdedores que, não tenho dúvidas, mostram-se, senão mais verdadeiros, pelo menos mais palpáveis que os norte-americanos ou escandinavos em suas dores.

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